quarta-feira, abril 19, 2006

As Lições da Ni #8

Após duas semanas de paragem é bom voltar a escrever algo com sentido...

A lição de hoje a pedido da criadora desta rubrica (e por causa de alguma nostalgia), será sobre o Fado.
Devido á coplexidade deste tema (eu acho que tem), ficam aqui duas versão sobre o Fado. Uma mais curta (a minha versão, à que ver que não percebo muito disto) e a versão mais longa (graças á internet...).


A minha versão: (isto vai ser mesmo curto)

O Fado, na minha opinião, traduz como é o povo português. O Fado é um estilo de música (nosso, só nosso) triste (o que por vezes não acontece), tal como nós. O Fado representa-nos no mundo como uma povo triste, melancólico, péssimista, etc... tudo o que seja negativo é associado ao Fado. Eu não concordo (totalmente).
Sim, o Fado é algo triste mas não é triste.... É um bocado para alguem como eu conseguir explicar isto.
Eu gosto de algum Fado, e acho que todos nós deviamos gostar de Fado. É a nossa música, é entre muitas coisas, aquilo que nos representa.



A versão da Internet: (bem mais longa)

"Fado, a alma de um povo"



Génese das várias formas de Fado

O Fado é, hoje em dia, um símbolo mundialmente reconhecido de Portugal, desde há muitos anos representado no estrangeiro por Amália, e mais recentemente por Dulce Pontes, entre outros. Pelo mundo fora, ao nome do nosso país, associam-se de imediato duas coisas: as toiradas e o Fado. Adquirindo diversas formas consoante seja cantado no Porto, em Coimbra ou em Lisboa, o Fado é, por direito próprio, a expressão da alma portuguesa.

O nosso país está, desde o seu nascimento, embebido num cruzamento de culturas. Foram primeiro os diversos povos que habitaram a zona que mais tarde se transformaria em Portugal e que deixaria os seus traços, foram os que invadiram o país já depois do seu nascimento, e são, ainda hoje, os diversos povos que aqui habitam e que contribuem para uma cultura comum. É neste sentido que é complicado apontar com toda a certeza a origem do Fado, mas todos os estudiosos garantem que esta remonta há muitos séculos atrás.

A explicação mais comumente aceite, pelo menos em relação ao fado de Lisboa, é de que este teria nascido a partir dos cânticos dos Mouros, que permaneceram nos arredores da cidade mesmo após a reconquista Cristã. A dolência e a melancolia daqueles cantos, que é tão comum no Fado, estaria na base dessa explicação.

Há no entanto quem diga que na realidade o fado foi entrou em Portugal, mais uma vez pela porta de Lisboa, sob a forma do Lundum, uma música dos escravos brasileiros, que teria chegado até nós através dos marinheiros vindos das suas longas viagens, cerca de 1822. Só após algum tempo é que o Lundum se foi modificando, até se ter transformado no nosso Fado. A suportar esta hipótese está o facto de que as primeiras músicas dentro do género estavam de ligadas não só ao mar como às terras para lá daquele, onde habitavam os escravos. Veja-se o exemplo de uma das músicas cantadas pela Amália, chamada "O Barco Negro", que fala precisamente de uma sanzala.

Uma outra hipótese considerada remonta o nascimento do fado à idade média, à época dos trovadores e dos jograis. Já nessa altura se encontravam nas músicas características que ainda hoje o facto conserva. Por exemplo, as cantigas de amigo, que eram os amores cantados por uma mulher, têm grandes semelhanças com diversos temas do fado de Lisboa. As cantigas de amor, que eram cantadas pelo homem para uma mulher, parecem encontrar parentesco no Fado de Coimbra, onde os estudantes entoam as suas canções debaixo da janela da amada. Temos ainda, da mesma época, as cantigas de sátira, ou de escárnio e mal dizer, que são ainda hoje mote tão frequente do fado, em críticas políticas e sociais.

De qualquer modo, o fado parece ter surgido primeiramente em Lisboa e Porto, sendo depois transportado para Coimbra através dos estudantes Universitários (já que Coimbra foi, durante muitos anos, a cidade Universitária por excelência), e tendo aí adquirido características bastante diferentes.



Diferenças entre fados

Em Lisboa e no Porto encontramos o fado cantado essencialmente na parte mais antiga da cidade, em tabernas ou casas de fado, pequenas, antigas, de paredes frias, decoradas com os símbolos daquela forma de canção nessas duas cidades: o xaile negro e a guitarra portuguesa.

O homem que canta o fado fá-lo normalmente de fato escuro. Canta os seus amores, a sua cidade, as misérias da vida, critica a sociedade, os políticos. Fala muitas vezes da toirada, dos cavalos, de tempos passados e pessoas já idas, e fala, quase sempre, de saudade. Mas de onde vem a palavra Fado? Do latim fatum, que significa destino, o destino inexorável e que nada pode mudar. É por isso que o fado é normalmente tão melancólico, tão triste: porque canta a parte do destino que foi contra os desejos do seu dono. A mulher canta sempre de negro, normalmente de xaile aos ombros, com uma voz lamentosa. Canta, tal como o homem, o amor e a morte: a morte que vem da perda do amor, o amor perdido para a morte...

Este modo de cantar espelha, de certo modo, o espírito do povo português: a crença no destino como algo que nos subjuga e ao qual não podemos escapar, o domínio da alma e do coração sobre a razão, que levam a actos de paixão e desespero, e que se traduzem naquele lamento tão negro mas tão belo.

E em Coimbra? Em Coimbra temos o mesmo estilo triste, mas com uma motivação totalmente diferente. Tal como já se disse, o ex-libris de Coimbra são os estudantes. Aos poucos, jovens que iam de Lisboa e do Porto para ali, foram levando as suas guitarras e aquele estilo novo de tocar, que caiu nas boas graças da população estudantil. O que poderia ser melhor para impressionar as suas amadas, do que cantaram a sua angústia por não as terem, depositando-lhes nas mãos um coração cheio de penas que só elas poderiam aliviar? E que outra música poderia explicar melhor o desgosto de abandonar os melhores anos da mocidade, a vida boémia de um estudante, do que o Fado? Foi assim que ele surgiu como a música oficial das despedidas de cada ano, e dos estudantes em geral.

Em Portugal é costume os estudantes trajarem com um fato e uma capa grossa, negros, e é assim que se canta o fado em Coimbra. Pode parecer um pouco soturno, uma multidão de negro ouvindo uma serenata de Fado de Coimbra, mas na verdade é muito belo. No silêncio da noite - pois as serenatas são sempre à noite - ecoam as guitarras e as vozes profundas, num lamento que se estende por sobre a multidão de capas negras, ou que se esgueira pelas esquinas das ruas estreitas e se entranha nas pedras centenárias.



O lugar do fado

Note-se que apesar do fado ser um símbolo da nossa nacionalidade, ele não é, de modo algum, a canção nacional. De região para região, Portugal possuiu um folclore rico e típico de cada geografia, que nada tem a ver com o fado. Podemos, se quisermos, dizer talvez que este será a forma de folclore de Lisboa, Porto e Coimbra. No entanto, ele é apreciado e reconhecido em todo o país como um símbolo.

É este o espírito do fado, a expressão de uma alma colectiva, feita da alma de cada um.




É de notar que a versão da internet é bem mais longa...
Fica então aqui o Fado. O nosso Fado.

Boa noite e até qualquer dia

H.F.D.

1 comentário:

ni disse...

obrigado.
sem duvida uma das melhores lições.
fado é aquela parte d nós que se afirma portuguesa, é com essa parte que sentimos e nos expressamos.
o fado não é só uma canção, não é so a voz de alguem e uma guitarra, é o sentimento.

adoro fado, há fados extremamente bonitos ainda que não muito conhecidos!